#TheGame23 - Enter the Infinite Rabbit Hole





What is #TheGame23?

"It is what it isn't though that isn't what it is and like I've always said I think that it's exactly what you think it is. If you believe it is whatever someone else told you it is then you're doing it all wrong because you're the only one who could possibly know what it is." - zed satelite nccDD 23 ksc


Project 00AG9603 - #TheGame23 mod 42.5 level 5

"00AG9603 develops as a self-organizing organism, connects with the virtual environment through its hosts (admins) by arranging the surroundings randomly for its own autonomous purpose" - Timóteo Pinto, pataphysician post-thinker





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sexta-feira, outubro 05, 2012

Cosmogonia e a Rosa dos Ventos


Uma fagulha cruza o universo por uma era indefinida. Esta fagulha, azul e amarela, espoca nas mãos de Elohim. A fagulha luminosa se retorce e toma uma forma carnal, similar ao que viria a ser o homem. Elohim utiliza o planeta Terra para cultivar a vida. Ele cria um panteão chamado Egrégora. Para lá são enviados deuses de outras dimensões...

Elohim os abandona para todo o sempre.

Na floresta mais densa:

- Vento! Devolva-me a carne. Oh servo da danação, que o fogo divino te cegue e minha fé em Elohim esmague-o. Liberta-me, pois não tens o direito.

Terra não pode mover-se. Os galhos de uma árvore podre trespassam seus braços, penetrando na barriga e entrelaçando a espinha.

 “Ronronar a revolta, renova a ruína, ruim, ruína, ruim e ruim. Ruma à relva, oh réu repugnante”.

O som gutural escorre pela terra lodosa e enjoa os ouvidos com seu tom putrefato. Vento encara o deus cativo, encurvado sobre uma pedra preto azeviche no escopo da nascente de um rio.

No panteão Egrégora:

 Água e Fogo observam a situação através das muralhas verdes de fumaça.

- Como pôde este demônio acumular tamanho poder em meio aos terrenos?
- Vento acumulou conhecimento da Natureza, bebendo na fonte ancestral. O que fazíamos neste ínterim?
- Mel, carneiros e ambrósia.
- Sim. E tu ainda sorris da onipresença, Fogo?
- Não tente o coloquial mundano em nossas moradas, Água. Deixe para Elohim e Terra, resolverem o entrave.

Luz adentra o salão. As muralhas de fumaça verde aumentam sua vazão e as imagens ficam nítidas.

- Olhe bem, com tua visão destreinada. Aro perfeito de liga prateada é o teu olho, Fogo. Só lhe concerne o imaginário tolo que inseriu na cabeça dos mortais. Fúria abominável, deus sol, derrotado!

Corado e nervoso, Fogo afastou Água de seu lado e afundou a face quadrada na fumaça.

Na floresta mais densa:

- Rutila a revoada. Rosto roto. Reclamo o receptáculo.

- Elohim não permitirá que uma força demoníaca desnorteie a humanidade e aqui estou, pelos deuses do panteão, para frear tua gana.

- Ralha-te ruminante.

Vento dissolve seu corpo sobre a pedra preto-azeviche. Um aroma de eucalipto envolve o lugar.

No panteão Egrégora:

Fogo balança a cabeça de forma negativa. Joga o corpo em um pequeno monte de plumas.

- Bobagem a contenda. Aquele ser não tem forças para nada. A figura do diabo é mais interessante que aquele porco feito de ar.

- O conhecimento que leio naquele ser é mais vasto do que o nosso.

- Terra é um humano com regalias de um deus. Confiei-lhe a missão de deter Vento. Você está certo Água, o conhecimento alimentou o poder de seu irmão.

Um estrondo percorre o salão e pelas cortinas de cetim passam Tempo e Espirito de braços dados.

- Luz, seu velho! Abra logo as palavras para o expansivo Fogo.

- Não passam de enfeite, esquecidos até pelos terrenos.

- Fogo... Há uma década, Água encontrou a Rosa dos Ventos. Estava nas mãos de Vento.

Fogo ergueu-se sobressaltado. As plumas chamuscadas, voaram ao seu redor.

- Pilhéria, meu irmão. O inferno não pode conter a língua traiçoeira de Água. A Rosa dos Ventos foi-se com aquele vexame do Mar Morto.    

Ao redor do mundo:

Direita
Um carro permanece, boa parte da manhã, engripado no poste. O resgate já conduziu o motorista acidentado ao hospital mais próximo. O guarda de transito desvia o fluxo de veículos para uma rua adjacente. Donas de casa preparam doces de amêndoas seguindo a receita dada na televisão. 

Esquerda
Seguem os protestos na praça em frente à sede do governo. O bloco de pessoas entoa canções de cunho político. Apinham-se cartazes com mensagens sociais imperativas. Na segunda investida do batalhão de choque, os revoltosos são por fim dispersos. A contenção progride em direção ao rio, em meio a pau e pedras. Os contidos dão ré, em meio a gás e borracha. Um pedreiro coça sua cabeça ao observar o erro de medida na junção de duas paredes.

Cima
Numa plataforma, o monitor repassa instruções de como proceder para um salto bem sucedido. Mas uma das garotas chora compulsivamente. Talvez o salto seja cancelado. Uma jovem executiva dobra a barra de seu vestido enquanto aguarda um café expresso da maquina nova.

Baixo
Para levar o cervo abatido até a vila, três homens se prontificam. O caminho menos tortuoso é pelo rio. O bote é antigo, mas agüenta, em seu limite, o peso de todos. A cabeça do cervo segue submersa na água.

No panteão Egrégora:

Luz acaricia um globo espelhado. O sol reflete a manta de ouro que adorna seu corpo. Harpas flutuantes ressoam ao redor. Som derruba os instrumentos no chão e se ajoelha ao lado de Luz.

- Está certo da posse da Rosa dos Ventos? Água me contou os problemas recentes, entes, entes.

- Foi vista através da muralha de fumaça. Vento a manuseia todas as noites. Está aprendendo os mecanismos.

- Mas a peça é gigantesca. A própria Natureza a cunhou antes de entrar em transe. O querido Vento está fora de eixo. Que farei sem ele, ele, ele?

- Demônio esfolado do abismo de Furfur. Vaga no planeta desde o sempre. Nunca se deu o trabalho de pisar aqui em Egrégora.

- Ouço seu resmungo rouco. Terra está preso em seu próprio Elemental. Natureza poderia salvar sua forma humana daqueles galhos, galhos, galhos.

- A folha da floresta goteja uma seiva em seu dorso. Só o Tempo responde quando se livrará.

Tempo surge sem sua face na frente de Luz e Som.

- Digo que não tenho mais passagem a responder. Agora, antes ou depois. Espírito sentiu o limite há pouco. A última trava da Rosa dos Ventos foi deslocada por Vento.

- Baixo ente. Com ele não quero ter. Elohim deixou-nos a Rosa como sendo a guia de direções para os humanos. A mim, me corroeu por todo o sempre a curiosidade de saber o que aconteceria se a última trava direcional fosse deslocada. Mas o ato em si, gera temor.

Estalos ribombam do raio que hachura o céu. A pele de Luz retesa como a de um velho no frio. Fogo corre em direção à muralha verde de fumaça.

- A Rosa dos Ventos foi acionada!

Espírito encarna o corpo de Som.

- Você fala em temor, seu patético. Tu és um deus. Que são os humanos?

- Lunáticos, sim eles são, Espírito.

Água escorreu temeroso pelo piso de prata.

- Não subestimem a humanidade. Acontece agora uma catarse no planeta. Eles estão descobrindo a nova direção liberada por Vento. Vão vir todos nos visitar? Preparem-se.

- Espírito? Olhe minhas chamas. Ceifarei muitas vidas que aqui ousarem chegar.

Ao redor do mundo:

Direita
A aeronave, com duzentos passageiros, inclinou suas asas para baixo.
- Já vamos pousar?
- Não, não. Creio que não. Mal deixamos o aeroporto.
- Mas eu queria mesmo mudar. Ir para lá. O que você acha?

Esquerda
- Queridos, hoje vamos numa excursão.
- Professora, nós vamos para lá?
- Vamos sim... Por aqui, para lá.

Cima
Dois amigos conversam nas areias de uma praia.
- E é por isso que eu chamei a Carla para morar no meu apartamento.
- Sabe que penso agora, numa consciência de estar aqui e existir no mundo? Poderíamos...
- Ir pra lá? Vou ligar para a Carla quando chegarmos.
E os dois se juntaram a uma pequena turma de pescadores.

Baixo
Um comboio do exército sai de uma estrada esburacada na mata.
- E dá uma vontade, senhor, de metralhar qualquer um que não deixar a gente fazer um reconhecimento. Entende?
- É o que todo desbravador faz quando se move para lá, soldado.

No panteão Egrégora:

- Rompante risonho, revela revolta!

Vento percorre de uma ponta a outra a Egrégora.

- Já é tarde, Vento. Tarde para censurarmos seus atos. Tarde para desfazer a percepção dos homens. Brinque à vontade. Aguardemos a chegada de todos. É o momento de uma nova hierofania.

- É engraçado. Vejo as primeiras pessoas avançando nas novas terras. Qual poderia imaginar que além da direita, da esquerda, frente e atrás, baixo e cima, poderia ocultar-se uma direção completamente diferente? Pudera eu que tudo sei, ainda ter estas surpresas.

- Não, Espírito. Ainda pode se surpreender. Veja quem chega antes por nossas portas.

Terra passa por todos, sujando de lodo o caminho. Vento o encara com um sorriso aberto. Terra zune uma espada no ar e a crava no peito de Vento.

- Ele sangra! Oh Elohim, que mal foi liberado em ter alterado a Rosa dos Ventos?

Água abraçou Terra e cochichou em seu ouvido:

- Somos humanos, enfim?

- Foi o preço da catarse humana.

Os deuses debulham-se em lágrimas, desorientados pela Egregóra. Clamando pela força criadora maior, silenciosa em sua eternidade.

- Elohim, Elohim. Onde está tua força?

Uma nova direção:

- Olhe aquelas pessoas, filha. Parecem perdidas e confusas.
- Papai... Já que chegamos até aqui, que é lá, antes, quando havíamos partido, podemos fazer o que quisermos?
- Eu também me sinto estranho, filha. Mas eu tenho uma arma.
- Se o senhor tem uma arma é melhor começar a usar. O brutamonte de rosto quadrado está vindo com tudo na nossa direção.

“Atenção, aqui é o exército da ONU, afastem-se do perímetro e aguardem instruções”

- Permissão para abater a ameaça senhor.
- Deus! De onde surgiu aquele carniceiro?
- Ele veio... Aparentemente... De lá, senhor.
- Elimine o alvo, soldado. Vamos civilizar esta bela região. Há muito a se fazer.

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