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O navio da humanidade tem, ao que se julga, um calado [distância entre o
ponto de flutuação e a quilha da embarcação] sempre maior, quanto mais
carregado for, quanto maior, acredita-se que mais profundo é o
pensamento do homem, tanto mais seu sentimento é terno, que quanto maior
estima tiver de si próprio, tanto maior será o seu afastamento dos
outros animais, que quanto mais ele aparecer como gênio entre os
animais, tanto mais se aproxima da essência real do mundo e de seu
conhecimento, mas julga faze-lo por meio de suas religiões e de suas
artes. Estas foram, em verdade, uma floração do mundo, mas que não está
de modo algum, mais próximo da raiz do mundo. Não se pode, de modo algum
tirar delas uma melhor compreensão da essência das coisas, embora quase
todos acreditem que sim. O Erro! O erro tornou o homem tão profundo,
tão sensível, tão criativo, que produziu uma flor tal como são as
religiões e as artes. O conhecimento puro não teria tido condições de
faze-lo. - Quem desvenda-se a essência do mundo nos daria a todos a mais
desagradável desilusão. Não é o mundo como coisa em si, mas o mundo
como noção [Erro], que é tão rico de sentimento, tão profundo, tão
maravilhoso, trazendo em seu seio a felicidade e a infelicidade. Esse
resultado leva a um conceito da "negação lógica do mundo", a qual de
resto, tanto pode conciliar com uma afirmação prática do mundo como o
seu contrário.
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