Pelo
fim das certezas e o advento da ignorância, urge a entrega ao vazio.
Nada em excesso! Cada vez mais Nada, pelo fim do jugo da razão! Respire
fundo, vai ser preciso: vamos falar dos Bebês do Abismo. Um bebê? Um
bebê? Inocentes criaturas rechonchudas moldando a massa bruta dos
devires, hesitantes senhores das marionetes. Queres razão? Queres fé?
Dance com os mutantes, dance! Crie, destrua, divirta-se, goze no Vácuo
da sopa caótica. Deleite-se com o simples prazer do 'Não'. Estamos aqui
como um pelotão de fuzilamento que não tem munição e como o condenado
que prefere não ver seu último desejo atendido. Somos pela nossa verdade
contra a sua, pela criação de mundos contra a realidade consensual,
pela ociosidade criativa contra o esforço estéril, pela incerteza contra
a segurança, pela doença venérea contra o ataque cardíaco, pela bobagem
contra a coerência, contra a ganância pela mendicância, e assim por
diante, porque isto já está cansando. Jesus
se matou. (Todos nós, deuses sacrificados, sabemos do que falo.) Quem
quer que já tenha tido um orgasmo sabe que a morte é nossa única amiga.
Mas não se deve irritá-la, já que a dama pode te fazer viver &
sofrer infinitas outras vidas, e muita lenga-lenga entre elas, até o
próximo orgasmo. (Será que pode mesmo?) "Todo êxtase é fugidio, todo
prazer ilusão." Que belo Buda que nos destes, Senhor. Nem podemos nos
contentar com umas mentirinhas inofensivas e com alguma fé idiota (e há
fé que não o seja?) que nos deixe pastando felizes e completos?
(Completos... A compleição será mais do que a felicidade?) Sou apenas
mais um que pensa, e por pensar pensa que pensa o que pensa pensar. (Ao
estilo de uma poesia de Pessoa eu penso ser uma pessoa que pensa como
Pessoa - mas eu não passo de um heterônimo mal criado.)
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